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Leituras da Pandemia – 101 anos de Primo Levi, o centauro da literatura

Carlos Stegemann, jornalista e escritor

A Química é a ciência da transformação, a ponte entre outras ciências naturais e talvez isso explique – em parte – a qualidade da prosa do judeu italiano Primo Levi, nascido hoje (31/07/1919), há 101 anos, em Turim. Levi é uma leitura recomendável a qualquer leitor, neófito ou iniciado, pela narrativa cativante, extensa e meticulosa, simples e complexa, simultaneamente. Químico de formação, foi a necessidade de relatar o horror vivido sob o jugo nazista que o transformou em escritor.

Deportado para Auschwitz, em 1944, teve a capacidade de sobreviver. Em 1947, após ter seu material recusado por várias editoras, consegue publicar ‘Se questo È un Uomo’ (É isto um homem? – no Brasil, editado pela Rocco, só em 1988), com a narrativa do mais emblemático campo de concentração da II Guerra Mundial. O tema é recorrente, mas como observa a catarinense Helena Bressan Carminati, “seu relato não é melancólico nem carregado de ódio ou rancor. É reflexivo e, sobretudo, tem o olhar para o Homem como o centro da questão”. Helena, 24 anos, é graduada em Letras Italiano pela UFSC e tem Levi como o objeto de seu mestrado.

Nunca li uma crítica sobre o trabalho de Levi que não o apontasse como um dos maiores prosistas do século XX, mas, diante disso, tenho dificuldade de entender por que é tão pouco conhecido. “Apesar de muito culto, com formação no Liceu Clássico de Turim, Levi não tinha formação na área, não frequentava os círculos intelectuais da época na Itália. Não teve uma formação padrão como escritor. Isso pode explicar por que teve sua primeira obra recusada inclusive pela editora Einaudi, que detém seus direitos autorais. Ele prosseguiu como químico até a década de 1970, considerava-se um ´centauro’, nesta simbiose entre a Química e a literatura”, revela Helena Carminati.

‘A trégua’ foi a sequência de seu testemunho no campo nazista, descrevendo – com a mesma meticulosidade e fluidez – a epopeia de seu retorno da Polônia para a Itália. Embora tenha publicado contos marcados pela visão futurista (‘71 contos de Primo Levi’ – Companhia das Letras, 2005), sua obra manteve a experiência da Guerra penetrada nos ossos.

“Sua leitura é contemporânea, pela capacidade de narrar o inenarrável, o horror nazista nos campos de concentração. Mas também, e em especial, pelo cenário de pandemia que vivemos. Nos faz pensar com mais cuidado sobre a nossa relação com o outro”, finaliza Helena.

Levi faleceu em 11 de abril de 1987, supostamente em um suicídio.

*Agradecimento à amiga e amante das Letras, Lorraine Ramos da Silva.

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