NASCEU!
Produzir um livro significa conceber o projeto editorial, pesquisar, decupar,…
Entre profetas e polianas, a Humanidade seguirá como sempre foi…
Relutei em redigir. Afinal, o momento clama por otimismo. Mas não temo em me expor, pois em boa parte de meus 40 anos de jornalismo manifestei minha opinião, por diferentes canais – e se não fiquei indiferente às repercussões, não as valorizei a ponto de me censurar.
Semana passada assisti a entrevista de Leandro Karnal na CNN Brasil, na qual previu, após a pandemia, um tempo de harmonia e solidariedade. Karnal fala como profeta e profetas não têm consistência no que dizem. Apenas seduzem seus seguidores, que precisam desesperadamente ouvir algo sobre a esperança no porvir. Um flautista de Hamelin.
As redes sociais e os meios de comunicação estão repletos de ‘polianas’. Um novo tempo, mais paz, mais respeito, mais home office, mais valor à vida… De banqueiros a CEOs de gigantescas corporações, passando – especialmente – pelos ‘coach’, seja lá o que representa essa profissão (?).
Por mais que tente, ao observar a História, não consigo enxergar essa ruptura. A II Guerra Mundial foi o maior evento da Humanidade. Morreram 70 milhões de pessoas. A banalização do mal. O que aprendemos? Vejamos: Na década seguinte, a Guerra da Coreia deixou quase 2,5 milhões de civis mortos ou feridos. Nos anos 1960/70, o mundo assistiu em cores pela TV as atrocidades de vietcongues e norte-americanos – o uso vulgarizado do napalm, torturas, execuções etc. Na mesma época, as ditaduras militares sul-americanas (com destaque à Argentina e Chile) tornaram trivial torturar, matar e desaparecer com os corpos de opositores, quaisquer que fossem.
E o que dizer do massacre de Sabra e Chatila, em 1982, no Líbano, um genocídio atribuído diretamente a Ariel Sharon, cujas mortes podem ter chegado a 3.500 – entre elas mulheres, crianças e idosos? Na metade dos anos 1990, a guerra que sucedeu à desintegração da Iugoslávia deixou mais de 30 mil mortos, uma faxina étnica no coração europeu! E a matança entre tutsis e hutus, na África? E os atentados de 11 de setembro?
Em 2020, na civilizada Europa, muitos animais de estimação são melhor tratados que refugiados africanos ou asiáticos. Em certos países, é política de estado deixá-los morrer, negando refúgio. Em outros, os governos têm leis que os protegem, mas a própria população se encarrega de hostilizá-los.
Não é difícil de concluir que os interesses econômicos prevalecem, travestidos por pretextos políticos, religiosos ou étnicos – e isso dá sequência ao modo tão bárbaro de viver dos humanos. Somos resistentes às mudanças e suponho que a explicação para tal característica milenar cabe aos antropólogos e cientistas sociais. Mudamos, é verdade, mas lenta e não linearmente.
No Brasil, morrem 60 mil pessoas/ano em supostos acidentes de trânsito. Muita gente boa se mobiliza contra essa tragédia, mas não é suficiente para estancar o massacre. Cai na indiferença das estatísticas, similar à violência nos lares e nos estádios de futebol, entre outras. Alguém acredita, realmente, que isso mudará, subitamente?
A pandemia da Covid-19 ganhará um lugar de destaque na História. Todavia, me recuso a crer que, tal como se encarnássemos novos espíritos de luz e paz, passada a crise, venhamos a viver como nunca o fizemos.
Prosseguiremos sendo estes complexos e multifacetados seres que expressam perversidade ou amor, justiça ou iniquidade, sensibilidade ou crueldade, compreensão ou belicosidade, em maior ou menor proporção, dependendo da época, do local e das circunstâncias.
Meu abrigo é a frase de Liev Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.
Que vença o melhor.
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